PROJETO PISCICULTURA

Piscicultura sustentável e Policultivo

A experiência do Cluster do Camarão ampliou-se para outros segmentos produtivos e migrou do litoral para o interior do sertão semiárido indo banhar-se nas águas dos açudes das regiões do Seridó e Oeste Potiguar. Um plano da ABDA, de desenvolvimento do negócio de pescado nessas águas, propôs em 2003 à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca do RN um plano para ampliar iniciativas de conversão de pescador em piscicultor. Na falta de recursos do governo, o plano foi revisado para um Projeto com a mesma finalidade submetido e apoiado por um edital do Programa Petrobras Desenvolvimento&/Cidadania, resumido a seguir. Na sequência surgiu no Cluster a necessidade de dotar o Estado de uma estrutura de piscicultura de produção de alevinos para o policultivo com camarão, atendida pelo Projeto Policam, patrocinado pela FINEP, instalada em Brejinho. Esta estrutura foi divulgada aos carcinicultores através do Projeto BNB. Estes três projetos estão resumidos a seguir.

Projeto Peixe da Gente

Projeto: Peixe da Gente - Difusão de Tecnologia de Piscicultura Semi-Intensiva para Produção Familiar de Pescado em Açudes do Alto Oeste Potiguar. Período: 25/01/2006 a 11/08/2010. Abrangência em 15 municípios da caatinga: Apodi, Caraúbas, Upanema, Severiano Melo, Itaú, Riacho da Cruz, Umarizal, Olho D’Água do Borges, Patu, Lucrécia, Pau dos Ferros, Encanto, Rafael Fernandes, Marcelino Vieira e Major Sales. Equipe: José Salim, Eliseu A. Brito, Marcelo Lima Santos, Jonas Melquíades Bezerra, Iara Vaz Guedes, Maize Pinheiro de Almeida, Michele Trindade Barreto, Marisa Medeiros Trindade. Parcerias: SAPE–Secretaria da Agricultura, Pecuária e Pesca do RN; EMPARN–Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN; EMATER–Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN; CEASA/RN–Centrais de Abastecimento do RN; DNOCS–Departamento Nacional de Obras Contra as Secas; IDEMA–Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do RN; SERHID–Secretaria de Recursos Hídricos; SEBRAE-Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; UFRN–Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Prefeituras municipais, secretarias municipais de Agricultura, Educação e Meio Ambiente, colônias e associações de pescadores. Patrocínio: Petrobras, Programa Fome Zero, depois Desenvolvimento&Cidadania. Administração: ABDA. Coordenação geral: José Salim; Coordenação técnica: Eliseu Augusto de Brito.

O Projeto desenvolveu três ações principais, duas em piscicultura (capacitação e operação assistida de treinamento em cultivo de peixe) e outra sobre aspectos sociais e ambientais da vida desse pedaço de sertão.

Capacitação em Piscicultura.

Nesta primeira fase, foram passados aos participantes conceitos e técnicas de cultivo através de cursos e práticas por profissionais experientes na preparação e orientação de equipes de piscicultura. Ao todo, foram capacitados 450 pescadores para piscicultores, conversão de capturadores para criadores de peixes; em turmas de 30 pescadores por município, indicados pelas respectivas representações.

Os cursos e treinamentos abrangeram disciplinas e práticas do manejo de cultivo e do negócio. Após uma introdução aos conceitos, métodos, petrechos e negócio da piscicultura, as aulas passaram a um modo de exercício aplicado na construção e preparação de materiais e tarefas do manejo. A capacitação foi iniciada pelo ensino prático de construção e manutenção de tanque-rede (gaiola); ou seja, em lugar de gaiolas prontas, o Projeto comprou os materiais para os alunos construí-las, transportá-las e ancorá-las no lago do açude, em mutirão sob a orientação do instrutor. Assim ocorreu na recepção e aclimatação de alevinos; alimentação e biometria, medição de parâmetros, fator de conversão, cuidados sanitários e tratamento de enfermidades, qualidade no processo e produtos e demais tarefas de cultivo do alevino até a despesca e acondicionamento do peixe adulto de porte mínimo comercial (500g) num tempo de 8 meses. Do negócio, receberam instrução sobre planejamento e gestão, custos de produção, receita de comercialização, administração do lucro, financiamento. Instrução e orientação sobre a normativa de licenciamento, implantação e condução de projeto de piscicultura legalizada e sustentável econômica e ambientalmente, preservando os mananciais e suas matas ciliares.

Infraestrutura.

As Unidades foram equipadas pelo Projeto com tanques-rede ou gaiolas (94), canoas (13), petrechos de pesca (tarrafa, puçá, rede, balaio, corda, colete) e de biometria (termômetro, kit pH, balde, bacia, peneira); pequeno prédio de alvenaria (11) para depósito de material e insumos. Outras 85 gaiolas foram incorporadas às Unidades de Cultivo pelas representações, totalizando 179 gaiolas, média de 13/Unidade, quantidade insuficiente para capacitar um projeto familiar.

O Projeto recuperou e colocou em operação uma pequena estação de piscicultura no açude de Lucrécia (inaugurado em 1935 por Getúlio Vargas) com capacidade de produção (100 milheiros/mês) suficiente para atender demanda dos grupos capacitados. Todo esse material e benfeitorias foram doados à representação oficial dos pescadores no respectivo município.

Treinamento em Cultivo.

Consistiu numa operação de 6 meses de treinamento em cultivo, assistida por um técnico residente, de execução pelo grupo de 30 pescadores de procedimentos, técnicas e rotinas das etapas de manejo de cultivo de peixes em gaiolas ancoradas nos locais definidos por uma batimetria expedita no açude do experimento. Tarefas sujeitas a paradas e recomeços para correções e ajustes. Ao final dela, cada membro da equipe teria o preparo e a condição de fazer auto avaliação para decidir ser piscicultor, através de negócio próprio ou organizado pela sua representação (colônia, associação, cooperativa). Tanto assim que a participação nesta fase não era obrigatória e aceitaria retirada de aluno no decorrer do experimento.

De cada prática treinada, os alunos recebiam folhas plastificadas com o roteiro, passos e receita dos procedimentos e formulações ensinados para orientá-los na execução das rotinas diárias de cultivo; plastificadas para facilitar o uso nas tarefas de manejo nas gaiolas dentro d´água.

Ao cabo do treinamento, 132 pescadores de 14 munícipios foram até o final treinamento nas 14 unidades de cultivo, entre 9 pequenas (6-9 gaiolas), 2 médias (10-19 gaiolas) e 4 grandes (20-30 gaiolas) que, em conjunto, produziram 35 toneladas de peixes. Receberam do Projeto alevinos (40 milheiros) e ração (10 toneladas) para o cultivo. Uma média de 9 piscicultores por Unidade

Avaliação técnica de ambas as ações revelou que do ponto de vista do manejo de cultivo: a) 8 grupos foram considerados capacitados e recomendados à continuação; b) 4 grupos necessitando de reforço para continuação; c) 2 grupos recomendados ao encerramento; na gestão do negócio, reforço para os 12 grupos indicados à continuação; d) apenas 1 grupo emancipado entre os capacitados, ou seja, somava recursos técnicos e financeiro s para tocar negócio rentável.

Análise apontou também dificuldades que emperram a evolução da piscicultura local: carência de assistência técnica permanente e contínua em todas as etapas de manejo; carência de fornecedores locais de insumos; limitação do mercado de consumo do peixe: vendido in natura ao intermediário ou a comunidade; carência de uma Unidade de Beneficiamento de Pescado na região; financiamento bancário impedido pelo gargalho da cadeia: falta de licenciamento ambiental. Tanto assim que, dos 14 grupos, apenas 1 foi avaliado emancipado, ou seja, pronto para o negócio.

Não era de se esperar diferente pelo que revelou o diagnóstico socioeconômico desse grupo de pescadores tendo na maioria idade entre 25 e 55 anos, casados, nível escolar primário, sem emprego, renda mensal de salário mínimo (R$ 465,00 em 2009) da pesca e agricultura. O perfil era limitante, mas não uma barreira ao negócio, desde que o pescador tivesse mais facilidade de acesso a crédito de investimento e operacional, insumos mais próximos, assistência técnica e uma cadeia mais organizada do pescado.

Acrescenta-se agora mais uma dificuldade, embora temporária, mas, por vezes, devastadora para a pesca e piscicultura na caatinga: seca prolongada como a atual desde 2012 que, além de matar os açudes pequenos, médios e até grandes, dizima sua fauna aquática. Falta de chuva na caatinga não é novidade nem anomalia, é a normalidade do bioma desde tempos pré-históricos. E que tem solução, já apontado há 100 anos pelos estudos do IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas; DNOCS atual): implantar um plano de ações permanentes de convivência com o fenômeno. Onde chuva não atrapalha e se pode dispor de solo e água, melhor terra não há para uma agricultura planejada.

Para os pescadores que optaram por continuar no oficio da pesca, o Projeto distribuiu 300 milheiros de alevinos (Tilápia, curimatã, piau, carpa) nos açudes dos experimentos e aproveitou reuniões e assembleias deles para instruções sobre pesca sustentável e preservação da mata ciliar e a qualidade da água dos mananciais.


INFRAESTRUTURA E CAPACITAÇÃO DE PISCICULTORES NA CONSTRUÇÃO DE GAIOLAS, CULTIVO DE PEIXES E PROCESSAMENTO DE PESCADO
Superior: Recuperação da Estação de Pisicultura de Lucrécia: abandonada > reformada > inaugurada: larvicultura observada pelo governador Iberê Ferreira.
Meio: construção de tanque-rede (gaiola) pelos pescadores: mediação da tela > costura da tela > gailo pronta > gaiola instalada no local de cultivo.
Inferior: cultivo do peixe: recepção de sacos com alevinos > alevinos na gaiola de engorda > biometria do peixe (tilápia) > processamento (filetagem) do peixe.


Projeto POLICAM – Suporte ao Policultivo

Projeto: POLICAM – “Difusão e Apropriação de Tecnologia de Policultivo Consorciado de Camarão com Tilápia pelo APL do Camarão do Rio Grande do Norte”. Período: 02/02/2009 a 31/12/2012. Abrangência: RN. Equipe: José Salim, Eliseu A. Brito, Marcelo Lima Santos, Maize Pinheiro de Almeida, Wédina Rodrigues de Lima (Aquacultora), Simone Araújo (Bióloga), Paulo de Paula Mendes (Eng. Pesca), Odilon Juvino Araújo (Eng. Pesca). Parceiros: realizado em parceria com 7 empresas: 5 fazendas de produção de camarão: Ipanema Aquacultura Ltda; Maricultura Pajuçara Ltda; Fazenda Rio Mar Ltda; Fazenda Canopus Aquacultura Ltda; e Santa Tereza Maricultura e Exportação Ltda; 1 fazenda produção de peixes: Centro de Produção de Tilápia Ltda, hoje Centro de Aquicultura Lawrence Ltda); e 1 laboratório de larvicultura de camarão: Larvi Aquicultura e Projetos Ltda. Parceria também com o DOL/UFRN (Departamento de Oceanografia e Limnologia), Emparn (Empresa de Pesquisa Agropecuária do governo do Estado) e Engenharia de Pesca da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Escola Agrícola de Jundiaí da UFRN. Teve o apoio do CNPq de 4 bolsas, 2 de pesquisa e 2 de iniciação cientifica por 24 meses. Patrocínio: Finep, Sebrae e CNPq; Convenio nº 1.0.05.0048.00 nº 41/2005. Administração: ABDA. Coordenação geral: José Salim; Coordenação Técnica: Eliseu Augusto de Brito.

O Policam foi um projeto voltado a estudos e experimentos de piscicultura. A motivação e justificativa decorreram de discussões no Cluster do Camarão do RN e outros fóruns sobre a utilização do meio aquático (viveiros) e instalações de fazendas de camarão para diversificar a produção e fonte de renda associando outros organismos aquáticos entre os quais peixes e ostra. Experiências positivas relatadas com Ostra e Tilápia levaram a propostas de passagem do mono (carcinicultura) para o policultivo (aquicultura).

No caso do peixe Tilápia, um dos pontos críticos da cadeia produtiva aventados a resolver seria a carência no RN de oferta de alevinos apropriados a essa associação com camarão marinho cultivado. Especialmente de alevinos resistentes à salinidade de águas estuarinas, em vista de o parque camaroeiro, em sua predominância, utilizar-se dessas aguas. Como uma função básica de Cluster é buscar remover gargalhos, ABDA, com contribuição de especialistas, elaborou, submeteu a edital público e teve aprovado este Projeto Policam.

No trabalho colaborativo da parceria, a produção de alevinos tocou ao Centro, a de pós-larvas de camarão à Larvi, enquanto os experimentos de policultivo às fazendas de camarão citadas. Estas foram escolhidas em função de sua estrutura e condições das águas de cultivo, partindo de águas doces (Fazenda Rio Mar) e salobras de faixas variáveis de salinidade.

Experimentos de fazendas tiveram duração de 12 meses com tilápias soltas e dentro de tanques-redes (gaiolas) em viveiros de camarão. Trabalho realizado pela fazenda parceira e acompanhado e monitorado pela equipe da ABDA.

Os centros de pesquisa deram sua contribuição em experimentos de cultivo de alevinos em ambiente controlado de laboratório. Numa bateria de 24 aquários do laboratório de Piscicultura do DOL/UFRN (Departamento de Oceanografia e Limnologia) foi realizado experimento do comportamento zootécnico de alevinos submetidos a faixas de salinidade variando de águas desde doces (0‰) até salobras (35‰) durante quatro meses.

O Centro de Produção de Tilápia, como diz o nome, tinha seu negócio na produção de peixes para o mercado local e regional. Na parceria, foi completamente modificado em sua estrutura e metodologia passando a produzir alevinos, com capacidade para até 1 milhão de unidades/mês. O Projeto arcou com as despesas de reestruturação física e capacitação da equipe nas operações de alevinagem. O Centro assumiu as operações e respectivas despesas e, evidentemente, a guarda e manutenção do patrimônio da nova estação de piscicultura. Águas vindas por gravidade de nascentes garantem até hoje operações permanentes da piscicultura.

Os experimentos das fazendas foram positivos em seus resultados, orientadores de mudanças e ajustes na conversão ao policultivo. Os de laboratório foram determinantes para controlar variáveis e parâmetros do processo e ajustar técnicas de procedimentos de manejo de cultivo, qualidade, despesas e comercialização dos alevinos.

Além dos resultados descritos, a experiência do policultivo veio contribuir para os carcinicultores enfrentarem o ataque virótico da Mancha Branca ao camarão do parque produtivo do estado, tendo eles na Tilápia uma alternativa ocupar viveiros com produção de peixes. Outro fato importante a destacar foi o da inovação tecnológica da variedade de tilápia Lawrence, um peixe carnudo, róseo-avermelhado, resultante de sucessivos cruzamentos entre tilápia cinza tailandesa e vermelha (red). Estudos genéticos realizados por pesquisadores da Escola de Jundiaí demonstraram ser os peixes nascidos róseos 96% de machos e 4% de fêmeas estéreis naturalmente. Condição natural ideal para produção industrial de pescado sem recorrer a processo artificial de reversão sexual das tilápias.


INSTALAÇÕES DE REPRODUÇÃO DE ALEVINOS DE TILÁPIA DA PISCICULTURA LAWRENCE, JUNDIÁ/RN
Superior: Piscicultura, galpão em destaque; antes e depois no interior do galpão com tanques azuis de alevinos.
Meio: viveiros de acasalamento de tilápias; coleta de ovos; incubadoras de ovos e calhas berçário de alevinos nascidos.
Inferior: cultivo do peixe: coleta de alevinos; alevinos acondicionados com oxigênio para viagem; lagoa de decantação de efluentes.


Projeto BNB - Promoção do Policultivo

Projeto: Patrocínio – Promoção do Policultivo na Tilapicultura e Carcinicultura. Período: 20/05-31/12/2015. Abrangência: parque de carcinicultura e piscicultura do RN. Equipe: José Salim, Maize Pinheiro de Almeida, Elias Miguel de Oliveira, Rosana Raissa Pimentel. Parcerias: Centro de Aquicultura Lawrence Ltda; EMATER/RN – Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte; SEBRAE/RN – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e pequenas Empresas; SAPE – Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Pesca. Centros Regionais da Emater e do Sebrae; Associações de produtores e Colônias de pescadores do RN. Patrocínio: Banco do Nordeste do Brasil. Administração: ABDA. Coordenação: José Salim.

Este projeto teve a finalidade de divulgar e promover os alevinos produzidos no Centro de Aquicultura Ltda, reestruturado pelo Projeto Policam. As ações iniciaram-se por um Dia de Campo na Faz. Lawrence onde os 80 participantes (carcinicultores, piscicultores, técnicos extensionistas, gestores) tiveram a oportunidade de visitar as instalações e conhecer o processo e procedimentos de cultivo de alevinos de tilápias tailandesas desde a coleta de ovos, passando pela incubação, larvicultura e maturação dos alevinos até o porte mínimo de comercialização (0,5-1g).

Na sequência, foram realizadas visitas às aos escritórios regionais da Emater e Sebrae de Assu, Mossoró e João Câmara para promoção dos alevinos com distribuição de folhetos de divulgação do projeto.

Esse Patrocínio, após 15 anos das primeiras discussões no Cluster, completa esta primeira etapa do trabalho de suporte e promoção do policultivo que a ABDA/Cluster se Propôs realizar. O caminho e a jornada adiante será fazer o Policultivo uma realidade na Aquicultura regional.


DOCUMENTARIO FOTOGRAFICO DO PROJETO BNB-2015
Dia de Campo no Centro de Aquicultura Lawrence (1, 5, 6); Reunião com piscicultores de Upanema (2); Reuniões com técnicos da Emater de Assu (3) e Sebrae de Mossoró (4); Visita às instalações de piscicutura (5) e viveiros (6) do Centro Lawrence. Fonte: Arquivo ABDA


Suporte

Parceiros