PROJETO AQUIFLORA

Preservação da biodiversidade e combate à desertificação da Caatinga

Projeto: Aquiflora-Recuperação de Fauna e Flora Sertaneja. Período: 25/04/2011 a 15/0/2014. Abrangência: Sertão nos municípios de Campo Grande, Caraúbas, Janduis, Messias Targino, Paraú, Triunfo e Upanema. Agreste nos municípios de Brejinho, Jundiá, São José de Mipibu e Nísia Floresta. Equipe: José Salim, Maize Pinheiro de Almeida (zootecnista); Cláudio Marcel Santos (advogado); Rosana Raissa Pimentel (Jornalista); Riccardo Carvalho (Jornalista); Fernando Pereira de Assis (Agrônomo); Anizio da Silva Neto (Aquacultor); Eliseu Augusto de Brito (Engenheiro de Pesca). Mirian Farkat (Pedagoga) e Eny Souto Maior Gomes (Pedagoga), Joyce da Silva Fernandes (Gestora Ambiental), Thiago Fernandes Medeiros (Tecnólogo Industrial), Jamil Ramsi Farkat (Administrador), Antonino Freitas Bezerra (Aquacultor), Ismael Fernandes de Melo (Historiador), João Paulo Pereira Rebouças (Gestor Ambiental), Ramiro Gustavo Camacho (Agrônomo), Walter Silva (Sociólogo), Pollyana de Farias Rangel (Arquiteta). Parcerias: Centro de Aquicultura Lawrence Ltda; Larvi Aquicultura e Projetos Ltda; Escola Agrícola de Jundiaí da UFRN; IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente; CEMAD – Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do Semiárido da Universidade Estadual; Emater/RN - Inst. de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN; Associação de Desenvolvimento Rural Sustentável Nova Vida; Associação Comunitária dos Prod. Rurais da Fazenda Pitombeira; Prefeituras, Câmeras de Vereadores e Colônia de Pescadores dos municípios parceiros. Patrocínio: Petrobras/Programa Petrobras Ambiental. Administração: ABDA. Coordenador: José Salim.

Na execução dos projetos Peixe da Gente e Policam, ABDA teve oportunidade de avaliar a extensão e gravidade do passivo ambiental do semiárido exemplificado pelo desflorestamento geral, supressão de mata ciliar, assoreamento de rios e açudes, exploração predatória de flora e fauna nativa, degradação de solos e instalação de processo de desertificação. Preocupou também o limitado nível de conhecimento e do baixo grau de percepção do sertanejo para com os efeitos danosos desses impactos sobre a socioeconomia local.

Com base nesse quadro preocupante, ABDA decidiu pela proposição deste Projeto Aquiflora ao edital de 2010 do Programa Petrobras Ambiental. Tendo sito aprovado, iniciou os trabalhos em 2011 e concluiu a primeira etapa em setembro de 2014. A proposta para a segunda etapa foi submetida e avaliada para renovação e aguarda decisão do patrocinador. A seguir um resumo dos trabalhos e resultados obtidos nesta primeira etapa. Canal Projeto Aquiflora

Proinfra – Programa de Infraestrutura.

Em sua base de campo do sertão de Upanema (5°38'28,50"S e 37°15'32,48"W), situada às margens da barragem de Umari, o Aquiflora investiu no levantamento topográfico, registro em cartório, cercamento, instalação de energia elétrica e água do terreno (1,1ha) da sede da Colônia de Pescadores (5°41'44,55"S e 37°15'25,23"W). Canteiro de mudas e sistema de irrigação para apoio ao reflorestamento. Na elaboração e licenciamento ambiental dos projetos de piscicultura e de uma unidade de beneficiamento de pescado para Umari. Doação de 2 kits (tanque de 1000 litros e aerador a bateria) às colônias de Upanema e Campo Grande para transporte de peixes nas operações de salvamento.

Em sua base do Agreste, na fazenda Lawrence (06°13'00.85"S e 35°19'49.46"W), investiu na implantação de um núcleo de reprodução de peixes nativos e outro do camarão pitu; na construção de uma pequena barragem de terra, uma adutora (700m) e 2 viveiros (900m² cada) para suprir necessidade de água para os dois núcleos. Em Barreiras Macau, litoral Norte, na ampliação e melhoria das instalações do laboratório de larvicultura do camarão pitu da Larvi Aquicultura Ltda (5°04'53.00"S e 36°28'59.00"W).

Essa infraestrutura implantada teve a finalidade de apoiar os trabalhos de campo, especialmente dos programas de recuperação de fauna e flora e educação ambiental, a seguir resumidos

Proflora - Programa de Recuperação da Flora.

A fauna nativa trabalhada pelo Aquiflora consiste do crustáceo Pitu (Macrobrachium carcinus), maior camarão de água doce do país, figurando no livro vermelho Ministério do Meio Ambiente como ameaçado de extinção. Os peixes Curimatã (Prochilodus cearensis), Piau (Leporinus piau), Traíra (Hoplias sp) e Acará-açu (Astronotus ocelatus ocelatus), espécies nativas consideradas sobre-explotadas pela pesca predatória no sertão e ameaçadas por secas prolongadas.

A reintrodução do pitu e a reposição de estoques dos peixes dependiam de oferta de “filhotes”. Inexistentes no caso do crustáceo, mas resolvido em 2013, com o fechamento do ciclo reprodutivo completo do pitu em laboratório, pelo parceiro Larvi; fato inédito e solução há muito buscada no mundo. Até o final dessa primeira etapa do Projeto, a Larvi produziu e entregou 20 milheiros de pós-larvas (filhotes) de pitu ao Aquiflora, tendo sido 12 milheiros destinados à formação de plantel e a estudos, e 8 milheiros soltos no trecho perenizado do Rio Carmo (5°48'18.00"S e 37°14'06.00"W).

Quanto aos peixes, o Aquiflora reproduziu e soltou 30 milheiros de alevinos de curimatã e piau na citada barragem de Umari e e rio Carmo, em Upanema; no açude Morcego (05°52’17,98”S e 37°20’50,63”W), Campo Grande. Em parceria com as Colônias de Campo Grande e Upanema, salvou de açudes comunitários secando e soltou nos açudes e rio citados mais de 1 milhão de peixes adultos das espécies nativas mencionadas e outras introduzidas (tilápia, tucunaré).

Esse trabalho pode ser classificado como ensaio experimental de ajustes de infraestrutura, capacitação e treinamento em manejo de cultivo para atender rotina de operações de reprodução e soltura do Profauna na segunda etapa do Aquiflora. Ver no vídeo abaixo.

Proflora - Programa de Recuperação da Flora.

Em face das diversas utilidades (madeireira, energética, medicinal, frutífera e artesanal) e do extrativismo sem a devida reposição, a existência das principais espécies vegetais arbóreas nativas e da fauna a elas associada está seriamente comprometida. Por ser clima semiárido, a diversidade da flora nativa da caatinga é inusitada. Na área do Projeto no alto curso da bacia hidrográfica do rio Carmo, as espécies arbóreas nativas principais são Angico (Anadenanthera macrocarpa), Aroeira-do-sertão (Myracroduon urundeuva), Barauna (Schinopsis glabra), Cumaru (Amburana cearenses), Feijão-bravo (Capparis flexuosa), Imburana (Commiphora leptophioeos), Jatobá (Hymenaea sp), Juazeiro (Zizypus joazeiro), Jucá (Caesealpina ferrea), Mulungu (Erythrina mulungu), Pau-branco (Auxemma oncocalix), Pau-d'arco-roxo/Ipê roxo (Tabebuia impetiginosa), Quixabeira (Bumelia obtusifolia).

Destacadas em negrito são as espécies ameaçadas e as demais são de ocorrência reduzida na mata da caatinga da região. Aquiflora adensou e enriqueceu um bosque de 5 hectares de área no terreno da Colônia e entorno, na barragem de Umari, mantido por irrigação de gotejamento. Finalidade principal de constituir uma sementeira para programa futuro de reposição dessa flora. Infelizmente pouco sobreviveu à seca prolongada que baixou tanto o nível da água e a distância da margem do lago que impediu o bombeamento da água para o sistema de irrigação. Trabalho relizado com a participação ribeirinhos e pescadores diretamente no campo como forma de instrução e treinamento de recuperação e preservação de matas ciliares.

Como já explicado, a seca obrigou o Projeto a buscar as águas de nascentes perenes da Fazenda Lawrence para desenvolver o Profauna onde ampliou o Proflora para recuperar mata ciliar do entorno de nascentes e margens de riachos que formam a bacia hidrográfica do rio Araraí, zona de transição para o litoral de clima quente, úmido, chuvoso da mata atlântica.

Em parceria com a fazenda e como base de apoio e treinamento em reflorestamento, foram construídos canteiros de mudas e plantadas 2 mil de espécies nativas da mata de transição: Amescla de Cheiro (Protium heptaphyllum), Angelim de morcego (Andira anthelmia), Aroeira-do-cerrado (Astronium fraxinifolium), Batinga (Eugenia sp), Camboim (Eugenia crenata), Cauaçu (Coccoloba latifólia), Cumichá (Allophylus puberulus), Guabiraba (Campomanesia dichotoma), Ipê Amarelo (Tabebuia serratifolia), Ipê Roxo (Tabebuia impetiginosa), Jatobá (Hymenaea courbaril), Jucá (Pau Ferro) (Caesalpinia ferrea), Maçaranduba (Manilkara salzmannii), Mirindiba (Buchenavia capitat), Mogno (Swietenia macrophylla), Mulungu (Erythrina mulungu), Paineira (Ceiba speciosa), Pau Brasil (Caesalpinia brasiliensis), Pau mulato (Myrcia multiflora), Peroba (Aspidosperma polyneuron), Quiri (Brosimum guianense), Sapucaia (Bowdichia virgilioides), Ubaia Doce (Eugenia speciosa).

Proeduc – Programa de Educação Ambiental.

Este Programa foi concebido para fazer do sertanejo um catingueiro, instruindo para ser um parceiro proativo na preservação da caatinga e educando-o para um convívio sustentável para com a terra de seu berço e moradia. Para esta missão, o Aquiflora foi buscar adesão e parceria com a Escola na condução desse longo processo educativo. Em parceria com o CEMAD-Centro de Estudos de Desenvolvimento de Meio Ambiente do Semiárido, da Universidade estadual, produziu material temático da caatinga, repassado à Escola através de um programa de seminários para capacitação de professores no conteúdo e na metodologia de aplicação em sala de aula e comunidade.

No entanto para melhor aproveitar essa capacitação na temática da caatinga, o Projeto julgou necessário investir primeiro na preparação da escola e de seu quadro de gestores e docentes, promovendo oficinas de capacitação em planejamento e gestão escolar, inclusive no aprendizado sobre fundamentos e procedimentos de construção coletiva do Projeto Político Pedagógico (PPP) e do Projeto de Educação Ambiental. Além desses duas, o Projeto trabalhou com professores e alunos do Fundamental II observações e práticas no campo numa ação pedagógica denominada +Natureza. Detalhes das três ações na seção Educação deste portal; também no vídeo abaixo.

Programa Socioeconômico e ecológico.

Para conhecer a realidade da zona rural, o Aquiflora realizou um mapeamento de 60 comunidades rurais e 35 açudes comunitários, maioria no perímetro do lago da barragem de Umari, trecho dos municípios de Upanema e Campo Grande. Durante esse mapeamento, uma pesquisa socioeconômica realizada em 20 comunidades rurais do município de Campo Grande revelou o perfil no campo de uma população de 2.631 pessoas, sendo 513 crianças (0-12; 19%), 217 adolescentes (12-16; 8%), 558 Jovens (16-29; 21%), 984 adultos (30-59; 37%) e 359 idosos (+60 anos; 13%). Nível escolar: entre 1.608 declarantes alfabetizados 1.366 disseram ter até o curso primário. Renda: dos 1.732 que declararam renda, 1.534 ganhavam até 1 salário mínimo mensal; principal fonte de renda: pesca 149, agricultura 830, aposentadoria 383 e bolsa família 436. Moradia: 680 casas de alvenaria e 104 de taipa. Atividade produtiva: 881 agricultores, 557 criadores (bovinos, caprinos e ovinos) 150 pescadores, 125 avicultores e 12 apicultores. Infraestrutura: Energia elétrica: 17; água tratada: 9; telefone: 15; Internet: 7; Transporte: 428 motos; posto de saúde: 3.

Levantamento realizado com a finalidade de organizar uma base de dados para futuras parcerias com essas comunidades em projetos locais agroecológicos que atendessem o agricultor/pescador e também o Projeto na recuperação e preservação de fauna e flora. Uma das modalidades de negociação seria para preservação de mata existente, incluindo as protegidas por lei (florestas da reserva legal e APP), em troca de benfeitorias e benefícios dos serviços ambientais prestados pela propriedade rural. Acordo firmado com os dois assentamentos parceiros representou iniciativa dessa modalidade a ser testada como experiência numa segunda etapa do Aquiflora.

Além disso, esse conhecimento pode servir de base para uma análise de viabilidade de se implantar entre as comunidades uma rede de cooperação e empreendedorismo entre seus moradores, evitando a exportação da renda local e, assim, alimentando uma economia local sustentável e inclusiva.

Procom – Programa de Comunicação.

A equipe de Comunicação, 2 jornalistas, foi a responsável pela criação da marca e suas aplicações em material de escritório (envelope, papel timbrado, agenda), materiais de divulgação (folhetos, panfletos, cartazes, faixas, camisetas, bonés), escolar (canetas, bloco de notas, régua, pasta), uniformes (camisa social), impressos e gravados (coletâneas, relatórios, cd/dvd) e adesivos; fotografia e filmagem, produção de vídeos e ppt, formatação de textos, edição de conteúdo; criação e manutenção de páginas de blog e redes sociais; produção de reportagem, release, spot, anúncio, convite, certificado; orientação na construção do site Aquiflora e manutenção de seu conteúdo; suporte de multimídia em palestras; assessoria de imprensa. Assim, as ações e documentos do Aquiflora estão também divulgados em seu Portal (www.aquiflora.com) e páginas no Facebook, Youtube, Flickr.

Unidade Demonstrativa e Educativa

Os atributos naturais e a infraestrutura na base do Aquiflora na Fazenda Lawrence reúnem material e condições técnicas e didáticas para, com baixo investimento, operar como uma Unidade Demonstrativa e Educativa em aquicultura continental, reflorestamento de mata nativa e proteção de nascentes e mananciais e sua fauna. Visitas de escolas e cursos universitários, piscicultores e agricultores já são de frequência semanal para aulas práticas de campo e orientação técnica.

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